O pior dia da minha vida




Ele vinha caminhando sozinho, estava bem perto de sua residência, não faltavam mais do que poucos metros. Ele vinha lembrando da festa que acabara de participar, muito concentrado em suas lembranças demorou para perceber um sujeito, calças meio rasgadas, roupas sujas, com um olhar preocupante, sua expressão era de quem tinha dúvidas. Passavam-se pouco mais das 23 horas no seu relógio de pulso, ele sabia que estavam sozinhos naquela rua onde do lado do metrô era só muro e no lado das casas não havia uma viva alma com a porta aberta, todos ali sabiam que àquela hora não deveriam bobear, não era seguro sair ou chegar em casa. Mas ele não se preocupava
com isso, sabia que não era esse o problema, mas o medo sim era o real motivo de existirem pessoas que se aproveitavam do medo de seus vizinhos para levarem o terror para aquela vizinhança. A cada passo que ele dava o outro também dava mais um, era como se ele estivesse o imitando, se ele parasse o outro também parava, foi nesse momento que o medo começou a tomar conta dos sentimentos dele e possibilitou ao outro o controle da situação, os dois trocaram olhares e quase como mágica o homem que estava a sua frente sumiu, parecia ter entrado no poste de energia, ele não sabia como explicar o que tinha acontecido, apenas que já não podia deslumbrar o homem que lhe causara arrepios. Continuou sua caminhada desconfiado de que o tal homem ainda poderia aparecer e, quando passou pelo ponto onde tinha visto o homem, ele olhou rapidamente para o poste e teve a impressão de ter visto o vulto do homem, nesse momento ele sabia que não podia entrar em casa, não podia arriscar que o homem soubesse onde era seu refúgio, então decidiu que pegaria o metrô e iria para outro lugar, ele não tinha pensado direito para onde nem o que faria, só o sentimento de medo predominava em sua mente, não conseguia pensar em nada que não fosse: E se ele estivesse armado? E se ele me fizer alguma coisa? Ele pode machucar minha família. Por um momento ele parou pra pensar se não exagerara e deixara o medo controlar suas emoções, sabia que aquele modo não era o dele de agir. Mas ao olhar para trás e pensar em ir pra casa, foi surpreendido pelo homem que tinha reaparecido e, aparentemente, decidido agir. Ele agora tinha nas mãos uma faca, um olhar ameaçador e uma respiração ofegante, parecia que aquilo não era fácil para ele, talvez deva dar tudo que tenho para esse homem e pedir que vá em paz, pensou ele, mas a chance de o homem não se satisfazer com as minhas posses são enormes, concluiu então que deveria correr para o metrô que ainda estava muito a sua frente, agora ele era perseguido pelo homem que também corria em sua direção, não mais com uma expressão de dor, mas com a clareza de que não era dinheiro que ele queria. O homem se aproximava a passos largos de sua corrida, parecia ter uns 3 metrôs de perna, era difícil se manter longe da lâmina afiada, mas sabendo das intenções do homem, ele deixou o desespero tomar conta da sua mente e correu como se sua vida dependesse daquilo, não sabia mais o que fazer, não sabia o que estava acontecendo. Por que comigo? O que eu fiz para esse homem? Se perguntou. Então, depois de correr uma maratona até a estação de metrô, desceu cada um dos degraus sem enxergar, pulou para descer mais rápido, era evidente que o homem não chegaria tão longe para lhe fazer mal. Ali ele estaria a salvo. Ali deveria ser o ponto de seu refúgio. Quando colocou os pés dentro da entrada puxou logo do bolso uma bolsinha com moedas, estava tão nervoso que quase não consegue pegar o dinheiro trocado, ele olhava o tempo todo para trás para ver se eu perseguidor continuava vindo. Ele então foi para a plataforma e quando olhou para o relógio da estação, eram 23:33, ficou aliviado por saber que conseguiria ir até a casa de algum amigo, mas não parava de pensar se o homem não estaria ali misturado com os outros passageiros, e se o que ele queria mesmo era a sua vida e não o seu dinheiro.

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